domingo, 4 de janeiro de 2009

QUANTO PESA UMA MENTIRA?

Todos somos confrontados com as mentiras dos outros (e com as nossas) mais ou menos frequentemente. Várias religiões combatem a mentira apontando-a como algo a banir. Faltar à verdade” é ir contra o 8º mandamento embora na bíblia se ponha a tónica no “levantar falsos testemunhos” e no “difamar o próximo”.
Não mente apenas quem anda arredado do divino por via da religião ou quem não teve qualquer orientação quanto a sãos princípios. Ao que parece, todos sabemos mentir e todos mentimos. Quem gostar de pensar que não mente será confrontado pelos que dizem que isso é algo patológico.
Sabemos que se há mentiras que até divertem e, há outras que não têm graça nenhuma porque invariavelmente destroiem o que seria de preservar.
Que leva as pessoas a mentir? No contexto social a mentira desempenha alguma função? O assunto foi já esmiuçado por muito boa gente – Proust, Rousseau, Francis Bacon, Anatole France, Nietzsche, Erasmo de Roterdão e, muitos deles, apontaram-lhe virtudes que por vezes não podemos negar. Eles afirmaram que não só a mentira é essencial à humanidade como tudo é digamos, mais apimentado, colorido e interessante através dela. Todos estes humanistas ou filósofos citados viveram há mais de um século. Teixeira de Pascoaes (1877-1952), mais próximo de nós no tempo, diz que a faculdade de mentir caracteriza o homem actual e nessa capacidade se baseia a civilização moderna. Será isso aceitável? Admiramo-nos nós com o “fenómeno” Bernard Madoff e de outros que tais que pululam no planeta e que nos hão-de levar de volta às origens – para as cavernas – se os deixarem andar por aí alegremente. Ao que parece têm ou temos deixado. Como foi possível mentir tão descaradamente? Qualquer mentira não desmascarada é possível porque... ou não há coragem para a desmascarar, ou porque serve o prazer de alguém, porque divulgar esse prazer é contrário à própria honra, porque se pensa que só afecta outros, porque tal como acontece em certos casamentos, antes de destruir uma mentira se pensa com que verdade se vai substituí-la (Benavente y Martinez , Jacinto) ou ... por tantas outras razões que se poderiam dar...
Simone Weil diz - "a mentira é uma armadura com a qual o homem, muitas vezes, permite ao inapto que existe em si sobreviver aos acontecimentos que, sem essa armadura, o aniquilariam.
Seja como for por mais justificações que queira dar ou encontrar para esta faceta humana, acredito que é nefasta, que destrói mais do que compõe, que anda de braço dado com a falta de coragem e que tem necessariamente de pesar a quem tenha um mínimo de princípios. Não torna de certeza a sua vida mais feliz nem a daqueles a quem julga enganar ou a quem engana de facto. Aqui ficam alguns pensamentos sobre um assunto tão velho quanto a humanidade:
Fiquei magoado, não por me teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-te –
Nietzsche Mais vale o erro em que se crê do que a realidade em que não se crê; pois não é o erro, e sim a mentira, o que mata a alma – Miguel Unamuno Os (mentirosos) mais perigosos de todos acreditam que não mentem porque conhecem o derradeiro segredo: a verdade. – Isabel Leal A mentira é como uma bola de neve; quanto mais rola, tanto mais aumenta – Martinho Lutero A origem da mentira está na imagem idealizada que temos de nós próprios e que desejamos impor aos outros – Anais Nin

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